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blog sobre "Os Portugueses Descobriram a Austrália? - 100 Perguntas sobre Factos, Dúvidas e Curiosidades dos Descobrimentos", de Paulo Jorge de Sousa Pinto
Estou a elaborar um artigo, a publicar na Brotéria, sobre Para Além de Capricórnio (para arrumar de vez o assunto, que vai sendo tempo). Espero dar uma ideia mais ou menos clara das falácias da obra e da impreparação, das leituras insuficientes, das análises apressadas e das conclusões muito mal fundamentadas do autor. O livro não é uma exposição analítica dos indícios e suspeitas de que os portugueses terão visitado o continente australiano no século XVI; é, ao invés disso, um exercício de dedução narrativa, alegadamente irrefutável, de um princípio estabelecido logo no início: o de que Cristóvão de Mendonça reconheceu e cartografou a região numa (imaginária) viagem ocorrida em 1522-23. Provas? o Atlas Vallard, mesmo que nada, mas mesmo nada, ligue as duas coisas. Peter Trickett não é um burlão como, por exemplo, Gavin Menzies e o seu 1421. O livro contém informações interessantes e um exaustivo trabalho de prospeção e de "vista à lupa" de uma série de pormenores. Pena é que deite tudo a perder com a obsessão-Cristóvão de Mendonça, e que sacrifique dúvidas, hipóteses, indícios, dados, peças, ao entusiasmo de contar uma história bonitinha que é, no fundamental, uma ficção.
Um exemplo da fértil imaginação do autor, mas pobre método de análise histórica:
"Aborígenes a pescar à lança (...) na costa da New South Wales, início do século XIX. Em fundo, um grupo de pessoas está reunido à volta de uma fogueira, a cozinhar peixe. Poderá ter sido uma cena do género que inspirou Mendonça a chamar a Port Stephens Rio Pescadores?" (legenda da gravura 8 do livro. "Rio Pescadores", recorde-se, é apenas uma inscrição que consta no Atlas Vallard).
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